Na sua 50ª edição, a IWA mostrou o que certamente será uma nova realidade para a feira de Nuremberga. A ausência de vários fabricantes de peso faz-se notar e mesmo aqueles que optam por estar presentes, já têm as suas novidades apresentadas.
Por Pedro Vitorino
Sem a azáfama de jornalistas da imprensa especializada que caracterizava cada edição da IWA desde há 20 anos, o maior evento do setor de armas desportivas da Europa, tornou-se numa feira de negócios, onde fabricantes levam um mostruário de produtos na expetativa de alcançar novos clientes, armeiros ou distribuidores.
Época dourada
Desde 2005 até 2019 a IWA fez parte da minha agenda de trabalho. Os primeiros dias de março, habitualmente, estavam marcados com a ida à IWA. Era em Nuremberga que os principais fabricantes europeus do setor das armas, munições e equipamentos para caça e tiro desportivo mostravam as novidades, contanto ainda com a presença de marcas vindas de todo o mundo, com maior ou menor exposição conforme o seu interesse no mercado mais conservado do Velho Continente. Era na Alemanha, durante a IWA, que os principais fabricantes do setor apresentavam as suas novidades para a próxima época de caça ou tiro. Mesmo que já tivessem mostrado algumas novidades, havia sempre algo a apresentar em Nuremberga. As salas de imprensa estavam cheias de jornalistas de todo o mundo, sendo frequente ver o staff completo de algumas publicações, tal eram as apresentações marcadas durante a IWA.
A apresentação da Cynergy PRO no enorme stand do Grupo BROWNING em 2009.
Efeitos pós-pandemia
A pandemia cancelou a IWA 2020 e os efeitos deste acontecimento a nível mundial fizeram equacionar muita coisa aos fabricantes que anualmente marcavam presença no evento. Os orçamentos para uma participação, para as marcas mais importantes, já ultrapassavam em muito as várias centenas de milhares de euros, há quem fale em mais de um milhão, para algumas. A pandemia surgiu mesmo em cima da realização da edição 2020 da IWA, cancelando o evento e impondo restrições em todos os setores da economia, das novas vidas profissionais e também de lazer, onde se incluem a caça e o tiro desportivo. Surpreendentemente, esse período de interregno não levou a uma diminuição generalizada do consumo de arma e seus equipamentos. Nem sequer de munições! Tudo se continuou a vender, mesmo havendo limitações na entrega dos produtos, as compras eram feitas por diversas formas.
Difícil de esquecer as “super produções” das apresentações BENELLI!
O mercado das marcas
Então mesmo sem feiras e outros eventos, vendemos na mesma? Talvez tenha sido este o “gatilho” que fez repensar aos principais expositores da IWA a sua presença, ou ausência, numa feira com esta dimensão e custos associados. Por parte da organização, com uma estrutura montada para um megaevento, como foi a IWA durante anos, tornou-se muito difícil criar uma feira com custos mais reduzidos. O resultado foi o afastamento por parte das marcas que investiam mais na sua presença em Nuremberga.
Os jornalistas da imprensa especializada saltavam de apresentação em apresentação. Foi assim durante vários anos de IWA.
Nova realidade
As redações da imprensa especializada deixaram de receber convites para a apresentações na IWA, poucos são os fabricantes que hoje apostam nesse tipo de divulgação, preferindo evento realizados durante o ano com grupos muito específicos de jornalistas, em função do tipo de artigos que se vende nos seus países. O que vi na edição de 2024, que marca os 50 anos da IWA, foi uma feira de negócios, com uma forte presença da indústria turca e chinesa: os primeiros no setor das armas de caça e especialmente de defesa, e até de munições; e os segundos na eletrónica, ótica e pequenos acessórios. Esta é nova realidade para a IWA.
Apresentação da BLASER R8 na IWA. Será que os grandes fabricantes vão regressar à IWA com toda a imponência de outrora?