Atualmente a Lei permite-nos utilizar moderadores de ruído nas armas carabinas de caça, ou seja, afetas ao uso venatório. Apesar de o podermos fazer desde 2019, a verdade é que frequentemente deparo com um total desconhecimento por parte de muitos caçadores sobre este tipo de equipamento. Este artigo revela alguns “segredos” sobre os moderadores de ruído.
Por Pedro Vitorino
Foi em setembro de 2019, com o novo regime da Lei das Armas, que passou a ser permitida a utilização de moderadores de ruído em armas de caça, desde que os mesmos cumpram uma redução máxima de 50 dB. Na verdade, praticamente todos os moderadores de ruído destinados a uso civil (venatório) comprem este requisito da nossa Lei, que é replicado em vários países, alguns até com um valor de redução inferior.
Compreender os decibéis
Não é fácil compreender a redução de ruído na escala de Bell, que utiliza o decibel (dB) como medida que compara a intensidade de um sinal a um nível de referência. Portanto, trata-se de uma grandeza adimensional (que não tem dimensão), ao contrário das medidas dimensionais que estamos mais habituados a utilizar nos nossos dia-a-dia, como as medidas de comprimento ou de capacidade, respetivamente, como são o “metro” ou o “litro”. Tomemos por exemplo o ruído de uma sala vazia, em “silêncio”, que ronda os 40 dB; uma conversa em tom normal, marcará na escala cerca de 60 db; do cimo da tabela temos o ruído de um avião, superior a 130 dB. E um disparo de carabina? Fiquem sabendo que pode ultrapassar os 160 dB (!), dependendo do calibre e comprimento do cano. E fiquem também que ruídos superiores a 120 dB correspondem ao limiar da dor e que dependendo do tempo exposição os danos no nosso aparelho auditivo serão irreversíveis.
O que faz o moderador de ruído
É impossível silenciar por completo o ruído de uma arma de fogo que dispare projéteis de alta velocidade (supersónica), como é o caso das carabinas de caça. Qualquer um dos calibres autorizados para caça maior dispara projéteis bem acima da velocidade do som (aprox. 340 m/s a uma temperatura ambiente de 15ºC). Por exemplo, uma arma de calibre 9,3×62, um dos mais lentos entre os que habitualmente vimos em montarias, dispara balas com uma velocidade superior a 700 m/s à boca do cano. Mesmo com um moderador de ruído ou silenciador montado no cano de uma carabina é impossível eliminar o ruído supersónico de uma bala. Contudo, com a aplicação de um moderador se ruído (passamos a denominar desta forma) no cano conseguimos reduzir o “BANG” provocado pela saída de gases pelo cano.
Configuração e eficácia
Tal como no silenciador do escape de uma moto (mais fácil de visualizar), de uma forma convencional, a redução de ruído é inversamente proporcional ao volume deste elemento, ou seja, quanto mais comprido e largo for, maior será a redução do ruído. Contudo, a instalação de um “tubo” na boca do cano de uma carabina vem aumentar o seu peso total e, ainda pior, alterar o seu equilíbrio, algo importante no momento do tiro. Basicamente, um moderador de ruído é um tubo com um diâmetro interior que permite a passagem do projétil e um diâmetro exterior que possibilita colocar vários elementos cuja função será absorver o ruído, diminuindo a velocidade dos gases provocados pelo disparo. Os acessórios deste tipo mais antigos possuíam lã de vidro (excelente “absorvente” de ruído), no entanto tinham diversos tipos de inconvenientes, como por exemplo o peso – o tubo “cheio” ficava pesado – e a necessidade de uma manutenção muito assídua, pois a lã deteriorava-se rapidamente. Atualmente a grande maioria dos moderadores de ruído comercializados para as carabinas de caça utilizam um sistema de “anilhas” (baffles) que vai reduzindo a velocidade dos gases à sua passagem. Basicamente, continua o mesmo problema, ou seja, quanto maior o volume do cilindro, maior será a redução de ruído. No entanto a aplicação das tais anilhas com distintas configurações permitiu alcançar níveis de redução de ruído muito interessantes. Por exemplo, num estudo publicado no Reino Unido, foi medido o ruído provocado por uma carabina, alcançando os 161 dB (decibéis). Com a aplicação de um moderador de ruído com 402 centímetros cúbicos de volume e sete anilhas (baffles) no interior, o ruído medido disparando a mesma munição passou para cerca de 142 dB.
Prós e contras
Como já vimos, o peso e desequilíbrio da arma (ambos menos acentuados com os moderadores mais modernos) são as principais desvantagens dos moderadores de ruído. Embora os mais modernos acessórios deste tipo já não fiquem “pendurados” no cano, ou seja, são aplicados na boca do cano, mas com parte do seu corpo a tapar parte do cano (sistema “over barrel”), reduzindo assim o desequilíbrio da arma. Podemos ainda acrescentar como desvantagens o custo extra (é mais uma despesa) e a mudança do ponto de impacto, levando a afinar novamente a carabina após a instalação deste acessório. Como vantagens, além da redução significativa do ruído e, consequentemente do risco de problemas auditivos para o caçador, que na maioria dos casos disparar sem proteção de ouvidos, temos ainda a redução do recuo provocado pelo disparo e maior precisão. Todos os testes efetuados pela imprensa especializada nos países onde está autorizado este acessório revelaram melhores agrupamentos.
Esclarecedor, muito bom Obrigado
e nas semi automáticas:gases!!!
Para breve um artigo/teste sobre moderadores para semiauto, está prometido!
Pedro Vitorino