As finais olímpicas nas disciplinas de Trap e Skeet continuam a levantar discussões entre os praticantes do tiro com armas de caça (espingarda). Para muitos é injusto vencer uma fase de qualificação a 125 pratos, por vezes destacado, e sair da final sem sequer ir ao pódio.
Por Pedro Vitorino
Os membros de fóruns de tiro em Espanha escandalizaram-se quando viram as suas atletas Mar Molme e Fátima Galvez, que se qualificaram respetivamente em primeiro e segundo lugar da fase de qualificação, saírem da final sem qualquer medalha.
Finais para o público
Na verdade, as fases de qualificação não contarem para o resultado da final estão presentes em várias modalidades, desde a natação ao atletismo. Um atleta pode vencer todas as suas séries de qualificação e na final ficar no último lugar. Será justo? Independentemente de considerarmos as disciplinas olímpicas de tiro com armas de caça provas de fundo, temos de pensar também nas repercussões mediáticas do desporto. Se uma maratona (prova de fundo no atletismo) é fácil de acompanhar pelo público, pois todos os atletas partem ao mesmo tempo e o que cruza a meta em primeiro lugar é o vencedor, já no tiro, convenhamos, seria muito difícil a um espetador acompanhar toda a prova. O vencedor da competição poderia ter atirado numa das primeiras séries do último dia, não existindo uma verdadeira meta para ser cortada. Depois poderíamos ainda ter uma situação de desempate para segundo e terceiro lugar, disputada por eliminatória (shot off) que teria maior visibilidade e daria maior destaque a estes atiradores do que ao vencedor. As finais olímpicas foram pensadas para o público e para a televisão, e por isso – temos de admitir – tornam o desporto muito mais espetacular.
Quem assistiu à final de Senhoras em Skeet certamente vibrou com a discussão da medalha de ouro atribuída à chilena Francisca Crovetto em “shoot off” contra a britânica Amber Rutter, por um prato de diferença! (E com a polémica desse prato – mas isso é outra história…) Ou até mesmo a disputa da medalha de bronze em Skeet Mixed Team entre a China e Índia, resolvida nos últimos quatro pratos.
Com música
Ainda de Espanha, levantaram-se vozes contra a música que passa nas finais olímpicas de Trap e Skeet. Inclusive, a atleta Fátima Galvez declarou numa entrevista que tinha dificuldade em se concentrar com o som (ruído) da música na final. Todos concordamos que o tiro exige concentração, mas a música nas finais não é coisa nova, acontece nos Jogos Olímpicos e nas Taças do Mundo há anos. Veio eliminar o “problema” que alguns atiradores criavam interrompendo a sua rotina de tiro – e a cadência da competição – exigindo silêncio total do público, algo muito difícil de acontecer quando tempos umas largas dezenas de pessoas a assistir, o que não acontece habitualmente nas provas de qualificação (com menos público – por falta de interesse?).
Na minha modesta opinião e como profissional dos media – além de praticante amador e adepto incondicional deste desporto –, penso que as finais neste atual molde são bastante mais atrativas para o público e em nada retira a verdade desportiva à competição.