Parece simples, escolher o choke mais adequado… e a coisa funciona mais ou menos assim: se vou aos coelhos ou galinholas, levo um choke mais aberto; para a perdiz, um mais fechado; para o tordo e rolas, depende… se vão altos… Já no tiro aos pratos, chokes mais fechados para as disciplinas de Fosso e mais abertos para o Skeet, com inúmeras variações no tiro Sporting. Pois é, não é assim tão simples, principalmente se não soubermos bem qual o efeito que podemos esperar de cada um dos chokes.
Texto e fotos: Pedro Vitorino
Nos últimos anos os fabricantes brindaram-nos com mais opções, afastando-nos continuamente dos conceitos antigos, válidos, mas que já não respondem a uma realidade em que entram em jogo mais variáveis, como a conceção dos modernos cartuchos e suas buchas, ou das novas ligas de chumbo (para não valar dos metais alternativos). Temos que ter em conta que as referências antigas, quando os chokes eram fixos e estava puncionado nos canos o estrangulamento, consideravam as variações de composição do tiro quando se utilizava de forma generalizada cartuchos com bucha de feltro ou cortiça. As buchas plásticas de “copo” mudaram bastante as coisas. Por isso, muitas vezes não acertamos com o choke para a nossa espingarda, esquecendo a influência que o cartucho tem na composição do tiro. Há que procurar uma combinação eficaz para a nossa forma de caçar e de atirar, para o nosso terreno de caça, inclusive para a distância a que caça o nosso cão, sem perder de vista que hoje, em cada lance, temos que contar com mais variáveis do que há quarto, cinco ou seis décadas. Mas continuamos a acreditar que a “receita” base para o choke mais adequado continua inalterada…
Choque, choke ou estrangulamento?
É comum vermos utilizada a palavra inglesa “choke” na principal literatura técnica sobre armas escrita em português; “choke” é a palavra inglesa para “estrangular”, sendo isso mesmo o que se passa na boca do cano, em que existe um estrangulamento da alma do cano, atuando sobre a carga de chumbo (ou outro metal) de uma forma semelhante ao efeito provocado por uma agulheta numa mangueira de água. Assim, será correto chamarmos choke ou estrangulamento, e não “choque”, que no dicionário português é sinónimo de confronto, embate.
Chokes intermutáveis
Os chokes desmontáveis ou intermutáveis – que podem substituir-se – são hoje preferidos pela grande maioria dos caçadores. São também chamados de “quicks”, porque permitem a sua substituição rápida (e um fabricante se lembrou de chamá-los de “quick choke”), normalmente com o auxílio de uma pequena ferramenta fornecida pelo fabricante da espingarda para o efeito. Existem dos mais diversos tipos e nomes; mais curtos ou compridos, com perfis interiores diferentes, procurando oferecer o melhor compromisso entre composição do tiro, alcance e eficácia. É certo que por vezes, com um ou outro tipo, se obtém melhores resultados, contudo para muitos caçadores – e atiradores – os chokes intermutáveis continuam a ser o “problema” de todos os seus erros de tiro. Primeiro porque nunca têm montados nos canos das suas espingardas o mais adequado; segundo, porque ainda há quem acredite que numa espingarda de chokes fixos a composição de tiro será melhor. Um bom conselho será dedicar algumas horas a conhecer a sua espingarda e o efeito dos chokes com as munições eleitas, com esses cinco ou seis tipos de cartuchos que habitualmente usa durante a época de caça. Pouco a pouco será possível perceber quais as melhores opções em função da distância de tiro e da peça de caça. Trata-se de experimentar, uma e outra vez, cartucho a cartucho. Por vezes chegamos a conclusões “inesperadas”, reconhecendo que um cartucho com uma carga moderada tem uma melhor composição de tiro do que “aquela bomba” de trinta e muitas gramas. Nos últimos anos podemos observar como os chokes se tornaram objeto de desejo para muitos caçadores, que procuram soluções entre os fabricantes especializados neste tipo de acessório. É algo interessante, não tão determinante quanto se pode pensar, salvo em casos muito concretos como no tiro de competição.
Teste e surpreenda-se
Existam ideias que erradamente persistem na cabeça dos caçadores: assim, há quem sustenha que um choke aberto, por exemplo de **** apenas serve para disparos a curta distância, ou que um choke ** unicamente é adequado para tiros a peças de caça largas. Embora em certa medida estes conceitos possam não estar errados, na verdade as coisas não são assim tão simplistas, quando falamos de resultados práticos. Não porque uma coisa é a teoria e outra a prática, mas mais uma vez temos que considerar outra variável muito importante nesta equação: o cartucho! Vejamos; todos conhecemos o efeito de um cartucho com bucha dispersante comparativamente a uma outra munição, por exemplo, com bucha de feltro e com um mesmo choke. Existem cartuchos que nos permitem abater limpamente peças a distâncias de tiro consideráveis utilizando chokes abertos, inclusive com cargas médias (e neste campo também há que mudar mentalidades). Mais uma vez, para conhecer os resultados práticos de uma determinada combinação (espingarda/choke/cartucho) há que testar. Cada espingarda tem as suas características de tiro e devemos conhecer quais são as da nossa. Cada cano é um cano e não pensemos que todos conseguem igual nível de prestações para o mesmo tipo de choke.
Chokes exteriores e prolongadores
É cada vez mais vulgar ver nas espingardas de competição com chokes amovíveis uma parte deste elemento prolongar-se para além da boca-de-fogo. Erradamente, atiradores e caçadores, confundem estes chokes do tipo “knurled” com chokes prolongadores. Os chokes “knurled”, como o nome em inglês refere (knurled = recartilhado), mostram um recartilhado exterior (que sai cerca de 25 mm fora do cano) de modo a facilitar a identificação das suas características e a sua instalação ou remoção sem necessidade do uso de ferramenta. Será muito mais prático e rápido para o atirador proceder à troca de choke no decorrer de uma competição. Estes chokes são habitualmente denominados Extended e podem também apresentar orifícios laterias (denominados de “ported”) que visam diminuir o recuo da arma (por redireccionamento dos gases). Outra coisa diferente são os chokes prolongadores que “acrescentam” 50 a 100 mm ao cano e que habitualmente oferecem prestações específicas: como a obtenção de melhores concentrações de tiro graças a características interiores (polimento ou perfil, por exemplo) que causam menor deformação do chumbo; ou pelo contrário uma maior dispersão, como acontece com os chokes Paradox, muito utilizados na caça à galinhola, e potenciar esse efeito.
Um apontamento final
No fundo tudo radica em testar, ensaiar e analisar os resultados de diferentes cartuchos na nossa espingarda e escolher combinações de choke que nos sirvam para cada tipo de jornada e peça de caça. Sobretudo deve evitar ter ideias preconcebidas e aceitar que em todos os disparos existe uma forte componente humana, portanto, de possibilidade de erro. Deve evitar nas suas jornadas de caça disparos irrefletidos, os tiros “só para ver se lhe dava…”, a caça é outra coisa, é respeitar a peça e disparar unicamente quando estão reunidas as devidas condições. Esqueça fazer o “teste” de cartuchos durante as suas jornadas, não fará qualquer sentido porque nunca saberá exatamente o que ocorre em cada disparo e muito menos terá condições para avaliar o potencial de um cartucho na sua espingarda com determinado choke. Os testes têm de ser feitos agora, antes do início de uma nova temporada e no local próprio, no campo de tiro.
NOTA: referência ao estrangualmento
Convencionou-se o estrangulamento ou choke de um cano de acordo com a percentagem de impactos obtidos num círculo de 75 cm de diâmetro, comparativamente ao número de bagos da carga do cartucho, num disparo a 35 metros e que resulta na seguinte tabela:
Choke | Redução do diâmetro da alma (em décimas de mm) para calibre 12 | Percentagem de impactos |
Full choke ou choke | 10 a 12 | 70% |
¾ | 7 a 9 | 65% |
½ | 5 a 6 | 60% |
¼ | 3 a 4 | 55% |
Cilíndrico melhorado | 1 a 2 | 50% |
Cilíndrico | 0 | 40% |
Não referiram a distribuição do chumbo pelas camadas regulares que se dispõe umas sobre as outras, em função do choke e diâmetro dos vagos… Um exemplo simples…no tiro aos pratos usa se um estrangulamento ideal para os 28 gramas de chumbo e o tamanho 7,5. As camadas de chumbo são perfeitas, sem um bago a mais ou a menos.
Bom dia, será o que é chamado de “coluna de tiro”, muito difícil de avaliar sem recurso a câmaras de alta velocidade. A distribuição de chumbo, como é lógico, é tridimensional, tive oportunidade de assistir na fábrica da Beretta a esse processo, com a filmagem (alta velocidade), análise e importância da “coluna de tiro”. Neste artigo a preocupação foi apenas de mostrar o significado dos padrões de estrangulamento, como o mesmo foi convencionado.
Cumprimentos,
Pedro Vitorino