Tive oportunidade de testar a irmã mais nova da Benelli Argo, a MR1 em calibre .223 Remington; com o mesmo sistema de gases e culatra de cabeça rotativa, a semiautomática MR1 surgiu em 2007 e inspirou a Casa de Urbino a apresentar uma nova geração espingardas de assalto chamada ARX-160. Mas vamos à MR1!
Por Pedro Vitorino
O mercado das armas desportivas tem crescido significativamente na Europa, assim como o número de frequentadores dos campos e carreiras de tiro. Esses novos praticantes são em grande parte caçadores, que em países como a Alemanha, Suécia, Dinamarca, entre outros, são obrigados a praticar tiro com regularidade. Desta forma, a procura por armas de carácter mais desportivo também tem vindo a aumentar. E é aí que entra a Benelli MR1, uma carabina que pode ser um magnífico instrumento de treino na carreira de tiro, como vamos demonstrar.
Leve, curta, fácil de manusear e barata de disparar, pois podemos encontrar no mercado munições de calibre .223 Remington por menos de um euro por unidade, existindo uma grande variedade de cargas e projéteis.
Mecanismo e cano
A MR1 é uma carabina semiautomática com mecanismo de gases autoajustável que garante a possibilidade de utilizar o vasto leque de munições do calibre .223 Rem., que podem carregar balas com pesos que variam entre os 40 e 77 grains, ou seja, a bala mais pesada tem quase o dobro da massa da mais leve. Ora isto exige um sistema mecânico (que funciona por aproveitamento de gases) fiável e tolerante. Mas isso não chega, pois quando praticamos tiro, mesmo que seja por pura diversão, exigimos precisão. Por isso a Benelli equipou a MR1 com um cano flutuante que está montado numa carcaça que se divide em duas partes; a inferior, fabricada em alumínio, e a superior em aço, conseguindo-se assim um bom compromisso entre o peso (reduzido) e a resistência mecânica dos elementos. Este último fator é muito importante, pois o pequeno calibre .223 Rem. convida aos tiros e quando damos por nós já gastamos duas ou três caixas de munições. As cadências de tiro elevadas provocam não só aquecimento no cano como também nos restantes mecanismos, por isso a MR1 está montada numa estrutura que favorece a dissipação do calor, e que acaba por dar um visual único a esta arma. Ainda no que diz respeito à precisão de tiro: o cano da MR1 é forjado a frio e tem apenas 50,7 cm de comprimento. Os canos que têm por fim disparar o calibre .223 Rem. são fabricados com um passo de estrias que varia entre as 12 e 7 polegadas; o primeiro é o que melhores agrupamentos consegue com balas mais leves, o segundo é o melhor
para as balas mais pesadas. A Benelli decidiu-se pelo passo de estrias de 9 polegadas, garantindo acima de tudo a versatilidade da arma.
Na carreira de tiro
Rapidamente damos conta do baixo peso da MR1 (3,2 kg), para o qual contribui não só parte da estrutura de alumínio da arma, como o conjunto de coronha e fuste em material sintético (tecno-polímero). A coronha é de linhas retas, sem almofada e sem crista, favorecendo um encare rápido e o tiro instintivo. A MR1 conta com um sistema de miras ghost ring – alça circular (diópter) e ponto de mira – e uma longa calha Picatinny que permite a montagem de qualquer tipo de aparelho ótico de pontaria. O acesso aos comandos é intuitivo; o libertador da culatra está no lado direito junto ao guarda-mato e a patilha do carregador é ambidestra. O carregador possui capacidade para 2 munições na versão de “caça” – limitação legal – podendo ser substituído por outro de maior capacidade para uso nas carreiras de tiro. A segurança é de passador ao gatilho cujo comando está localizado na parte anterior do guarda-mato. A arma que tivemos oportunidade de disparar contava unicamente com as miras de origem (diópter e ponto de mira), por isso optamos por colocar o alvo à distância 50 metros. Os primeiros tiros serviram para avaliar o gatilho e determinarmos quanta mira era preciso dar. O gatilho não é pesado como na maioria das carabinas semiautomáticas. Como este calibre praticamente não provoca recuo, não há a necessidade de um gatilho pesado para evitar as gatilhadas e disparos acidentais. Rapidamente descobrimos a altura de ponto de mira necessária para colocar os tiros na zona negra do alvo e os impactos nessa área sucederam-se, sem surpresas. Na realidade a principal surpresa vem do conforto de tiro; o recuo é praticamente nulo e mesmo com um peso total reduzido a MR1 não salta fora do alvo, permitindo continuar a colocar os tiros no negro mesmo efetuando séries de 5 disparos consecutivos.
Avaliação final
A Benelli MR1 é uma carabina com um visual moderno e desportivo. Tendo em conta o calibre que dispara, o seu terreno favorito é a carreira de tiro, podendo ser utilizada na caça. É uma arma bem construída, robusta e versátil, que consegue prestações interessantes ao nível da precisão. O facto de disparar o .223 Rem. torna-se uma grande vantagem quando gostamos de dar muitos tiros devido ao preço das munições.
Atualmente a MR1 já não se encontra no catálogo da Benelli, mas não é difícil encontrá-la no mercado de ocasião em muito bom estado, ou até mesmo novas, em diferentes configurações de coronha.
Ficha técnica
Tipo: carabina desportiva/caça
Funcionamento: semiautomática (gases)
Caixa da culatra: aço/alumínio
Calibre: .223 Rem.
Alimentação: carregador amovível
Comprimento do cano: 50,7 cm
Comprimento total: 104 cm
Peso: 3,2 kg