O melhor do passado no presente
A icónica Model 70 da Winchester é “só” uma das melhores carabinas da história; ponto! Esta reputação está escrita pelos melhores especialistas de armas nas mais prestigiadas publicações em todo o mundo e nas mãos de milhares de caçadores, entre os quais muitos profissionais que no continente africano protegem vida dos seus clientes (e a sua!) com as suas fiáveis “70’s” nos calibres .416 Rem.Mag. e .458 Win.Mag. Contudo, na “velha” Europa a M70 nunca se tornou popular, é raro vermos uma nas mãos de caçadores ao ponto da histórica marca norte-americana a ter tirado recentemente do seu catálogo nos calibres mais comuns, mantendo apenas disponível a Model 70 Safari Express em três calibres africanos.
Texto: Pedro Vitorino / Fotos: Autor e Winchester
Quando me é pedido algum conselho sobre uma primeira e única (este ponto é importante) carabina para caçar a tudo, a Winchester Model 70 vem sempre à baila. Para mim é (era…) uma das melhores opções do mercado, com um preço justo, um mecanismo mais do que comprovado e muito fiável, segura e com prestações ao nível da precisão de tiro mais do que suficiente para o que pretendemos; caçar! Por exemplo, com uma Model 70 Super Grade em calibre 7mm Rem.Mag. ou .300 Win.Mag. podemos caçar a tudo em qualquer parte do mundo, deixando apenas os Cinco Grandes Africanos para outra arma (que pode ser também uma M70!). Acho que nunca fui suficiente convincente nos meus argumentos sobre a M70 que tenha levado alguém a comprá-la…
Um pouco de história
A Model 70 surge em 1936 para substituir outra carabina icónica da Winchester, a Model 54, e rapidamente conquistou o mercado norte-americano, num período em que o país saía da Grande Depressão e era preciso reanimar o mercado. A base da ação/culatra da nova Model 70 continuava a ser a Mauser-98, com extrator passivo (de lâmina lateral, mecanismo chamado Controlled Round Feed) e patilha de segurança superior a travar o percutor. A popularidade da Winchester Model 70 atingiu os píncaros nas décadas de 1950-60 com o norte-americano Jack O’Connor, um professor de inglês reformado que se tornou num dos mais proeminentes especialistas de armas de todo o mundo. Com a sua Model 70 em calibre .270 Winchester – e sempre com uma mira Leupold de 4x aumentos fixos –, Jack O’Connor caçou em todo o mundo e foi inclusive Weatherby Award em 1957, prémio atribuído a caçadores que se tenham distinguido a promover a caça e conservação da natureza, mas que também conseguiram várias centenas de troféus de espécies diferentes em várias regiões do globo.
A M70 pós ‘64
Em 1964 a Winchester viu-se obrigada, por motivos puramente económicos, a modificar a culatra da sua já lendária Model 70, substituindo a patilha de segurança superior por uma lateral (a atuar no mecanismo de disparo) e – o que menos convenceu os caçadores – a trocar o ferrolho de lâmina lateral (tipo Mauser 98) por um mecanismo de extração ativa, como a sua grande rival Remington tinha acabado de lançar em 1962, uma carabina consideravelmente mais barata. A manobra da Winchester não convenceu os puristas e, pior do que isso, a nova Winchester Model 70 pós ’64 deu vários problemas… mesmo não sendo uma carabina má, a verdade é que a reputação da arma caiu na lama. O próprio O’Connot escreveu que “a Model 70 pós ’64 não é uma má carabina e serve perfeitamente para todos os que não conhecem a sua antecessora”. Esclarecedor!
Regresso com Model 70 Classic
Em 1992 a Winchester apresenta a Model 70 Classic com ferrolho “Controlled Round Feed” – extrator passivo, de lâmina latera – mas ligeiramente modificado, no sentido de não tornar tão dispendioso o seu fabrico e também para diminuir alguma da folga axial que a antiga culatra evidenciava e que não é do agrado dos novos caçadores. Curioso é o facto de o mecanismo de gatilho não ter sofrido grandes alterações desde 1936 até 2008, altura em que foi modificado para um conjunto tipo bateria, com todas as suas partes móveis solidárias e facilmente desmontáveis me conjunto.
Até há bem pouco tempo podíamos encontrar no catálogo Winchester para a Europa algumas versões da Model 70, com coronha sintética e madeira, sendo a mais icónica a Classic Hunter, com rampa de batida e ponto de mira. Infelizmente, a Model 70 continuou a não convencer os europeus, talvez por mostrar um design demasiado clássico e algumas particularidades entendidas como menos práticas, como a ausência de carregador amovível (tem depósito de munições, com tampa).
Em todo o caso, julgo que dificilmente aparecerá uma outra carabina que reúna consenso a ser nomeada “Carabina do Século XX” como foi a Winchester Model 70.
Distribuidor: BRG, Lda. Tel.: 210 115 740.
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